pequenos nadas








|fotos: Carla Martins|


hoje saí de casa de máquina em punho. quer dizer, saí sem a máquina mas entrei de novo e de rompante pela porta. uma vontade urgente e repentina.
olhei para uma pedra quieta. e para os muros do quintal. para um pedaço de metal pintado, enferrujado, de cores gastas, mescladas, bonitas. e para o arbustro que ladeia a laranjeira. 
e para as folhas das camélias que se espalham, displicentemente, no chão. 
as cameleiras são bravas, são selvagens. são livres. aguentam, por pouco tempo, os fios quase invisíveis das teias. lançam as suas flores inodoras, brilhantes, gordas por sobre as folhas mais do que verdes. sem demora e sem pudor, largam-nas no chão. é preciso cuidado para não pisar as delicadas pétalas. delicadas e escorregadias.
antes de entrar no carro, miro os trevos e as pedras. as pedras erodidas, gastas. onde os verdetes, os musgos brotam. tudo parece viver. tudo se enreda sem ter em conta as frustrações dos seres pensantes que somos.
e nisto tudo as gotas de água tropeçam. 
brilhasse o sol e teria ficado ofuscada. teria posto os óculos de sol que são mais névoa do que a própria névoa. não teria perdido, livremente, 10 ou 15 minutos neste clique clique. teria deixado passar, mais uma vez, estes pequenos nadas. 









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