Palermo III { Sicília }




|fotos: Carla Martins|




fica completa a trilogia Palermo. li algures que Palermo é caos, beleza, história. olhando para trás, é isto mesmo. foram quase dois dias tremendamente intensos e é uma das cidades em que as fotos são tantas que é difícil escolher.


este último percurso começa num dos mercados de rua, o Mercato di Capo. encontrámo-lo completamente por acaso (sair do hotel e beber a cidade era a prioridade), apesar de ser ponto assente que teríamos de passar por um destes sítios. (lembro-me de aterrar em Atenas e dar de caras com um mercado de rua e de me sentir quase em casa, de sacola na mão e preparada para escolher os melhores e mais frescos ingredientes!) a questão é que estes mercados de rua em Palermo são, por si só, um mundo. e este em particular. são ruas e ruas com bancas, de tudo e mais alguma coisa. pouco fotografei porque não consegui perder tempo com a máquina, só me apetecia olhar, reter e apreciar todos os pormenores. pelo meio, várias portas de igrejas - e qual delas a mais antiga. entrámos na primeira: Chiesa dell'Immacolata Concezione. valeu bem a pena a paragem porque o interior é um fenomenal trabalho em mármore (como se pode ver pela segunda foto)! continuámos o percurso pelas ruas pejadas de tendas, de barulho, gente e... vespas. Palermo é uma cidade particular (também) no que toca ao trânsito, a fazer lembrar o Norte de África, e as motoretas não são excepção: andam por todo o lado, mas literalmente todo o lado, como se fossem uma espécie de peões com ultra-privilégios (risos). 
o próximo destino seria a praça onde está a lindíssima Fontana Pretoria e, muito perto, os Quattro Canti - confluência das quatro grandes artérias da cidade e a Chiesa di San Giovanni degli Eremiti. esta é a famosa igreja que começou por ser igreja, pelo meio foi mesquita e voltou a ser igreja. do exterior vêem-se as chamativas cúpulas vermelhas; no interior, o meu cenário favorito para os espaços religiosos: a pedra, austera e só, poucas imagens, a luz que entra e invade o espaço, respirar o espiritual sem interferências. 
com tanta sede de calcorrear a cidade, acabámos por dar de caras com outro mercado, o Mercato di Vucciria. confesso que a visita aqui foi bem mais rápida - já tínhamos tido a nossa dose de rua - e, na senda de encontrar o Palazzo Reale o dei Normanni, desembocámos na parte de artigos em segunda mão. estas bancas conviviam com um cenário degradado, sujo, desarrumado. na altura fez-me lembrar os pequenos bairros na Ilha do Sal, em Cabo Verde, que se encontram a caminho da parte deserta da ilha - casas construídas ao monte, tijolo à mostra, lixo no chão porque o vento o há-de levar. lá está: o caos e a beleza, o inesperado e o espanto. estas imagens não me saíram da ideia, mesmo na presença da opulenta Cappella Palatina. também aqui fomos brindados com outro tipo de surpresa: apesar de pagarmos o acesso na íntegra, nem todas as partes do Palácio (onde se situa a Capela) estão visitáveis durante a semana (é ali que funciona a sede do Parlamento Regional) e não nos informaram previamente. muito desagradável, para lá de desagradável até porque as partes inacessíveis são os aposentos! (onde costuma estar muita arte, para além de história, claro!)
aborrecimentos à parte,  e depois duma visita ao Teatro Massimo, decidimos explorar livremente a cidade - sem estarmos presos a horários de visita e a monumentos. andámos por entre ruas e ruelas, casas com varandas cobertas de panos (uma das coisas que sempre me fascina em qualquer cidade... janelas!). numa pequena paragem, assisti à cena do cestinho: uma senhora numa janela dum 4º andar descia, com ligeireza, o seu cesto dos recados - provavelmente a um qualquer conhecido que lhe traria, da mercearia mais próxima, um ou mais artigos em falta. e esta cena levou-me a recordações de infância: tinha uma amiga que costumava oferecer-me pequenos bonecos porque achava que eu era pobre e não tinha com que brincar! bem, resta explicar que fazia isto quando eu estava na rua a brincar e ela, da janela de sua casa, num 6º andar, fazia descer, diligentemente, o cestinho com as oferendas. recordações que não troco por nada deste mundo!
o dia acabou da melhor forma. encontrámos a frente junto ao mar por onde se pode correr, por onde se passeia, se joga à bola, se pesca e se olha o mar. um sítio lindo onde podemos assistir à chegada dos grandes e dos pequenos barcos, de onde se vêem as montanhas que circundam Palermo e o azul do Mediterrâneo. 
e esta aventura em Palermo termina não sem deixar já um pouco do que se seguiu: a vista sobre a cidade a partir da Catedral de Monreale.
ah! e boa Primavera! (muitos suspiros)





Palermo I, chegar à cidade e o antes da procissão a Santa Rosália
Palermo II, a procissão e o final de tarde

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