Siracusa III {Sicília}


(para ler os posts anteriores, Siracusa I e Siracusa II)


muitos finais de tarde nesta viagem foram dedicados à praia. fazer um road trip tem destas vantagens e não queríamos perder mais uma oportunidade de espreitar sítios recônditos e molhar os pezinhos. saímos de Ortígia (depois da visita ao parque arqueológico) em direcção a sul e tentámos estender a toalha em Fontane Bianche. para os nossos desejos, um sítio completamente intragável: estacionar era tarefa hercúlea, pior do que a Fonte da Telha num domingo; o areal, apesar de deslumbrante, estava quase tapado por espreguiçadeiras; à volta das praias, uma rede que fazia de gradeamento e muitos, mesmo muitos, hotéis com saída directa para o areal, música altíssima e piscinas cheias de gente. 
perante um cenário destes, demos meia volta.  
fizemos não sei quantos quilómetros à procura dum sítio para estender a toalha, passando por praias de pedra, mais praias cheias de gente, beira-mar que não tinha praia, até que resolvemos entrar num sítio com estacionamento pago - era a última hipótese antes do pôr-do-sol. afinal o estacionamento já não se pagava, a maior parte das famílias - munidos de mesa, campingaz e farnel - já tinham ido embora e a calma reinava. 
não foi o sítio mais limpo que encontrámos mas o final do dia acabou por ser espantoso. o tom dourado do sol pintou o areal com uma luz inacreditável. nas nossas costas, a folhagem quase não deixava passar luz; à nossa frente, a lua tomava o seu lugar, as crianças, que ainda persistiam na praia, tomavam o seu último banho, ainda estava calor mas a brisa já nos fazia arrepiar à saída da água. se não me engano, tudo isto se passou numa das praias de Punta Asparano e, espero muito sinceramente, que este pedaço se mantenha assim: mais selvagem, sem casas ou hotéis à volta.


|fotos: Carla Martins|

como se não bastasse este final de tarde para lá de espectacular, jantámos num sítio fabuloso: Trattoria La Foglia. passámos lá à porta durante o mesmo dia mas, como a ideia não ia na direcção da comida, não o vislumbrámos. felizmente que ao jantar nos enamoramos pela heterogeneidade das mesas, dos resguardos em renda que as cobriam, dos guardanapos a fazer lembrar os tecidos florais vintage e de cada pormenor delicado deste sítio. digo-vos, de coração e ainda com os sentidos a palpitar pelo que degustei, foi a melhor refeição que comi em Itália (claro que ainda não percorri a Toscana, atenção!) e uma das melhores da minha vida (e não, não estou a exagerar). pedi, caprichosamente e porque já tinha ultrapassado largamente a minha quota semanal de carne, um prato só com legumes e vegetais de toda a espécie - cozidos, grelhados, como possam imaginar. nunca tinha provado um prato tão saboroso, suculento e que, embora tivesse tentado, não consegui comer até ao fim (tal era a quantidade e variedade). do outro lado da mesa, umas suculentas almôndegas de atum em molho de tomate - não sei qual dos dois pratos estava melhor... nhami! mais dias tivesse ficado em Ortígia e começaria a rebolar até ao mar, à conta deste restaurante. 
tenho muita pena das fotos nocturnas estarem meio tremidas e de não mostrarem minimamente a beleza do local. foi a melhor despedida que podíamos ter desta terra. terra à qual ficou decidido voltarmos, até porque não conseguimos explorar decentemente esta ponta da Sicília (nem a parte da costa que vai de Palermo a Messina, o centro da ilha e as ilhas à volta - Lipari, Lampedusa e outras). pareceu-nos, em comparação com a parte da ilha que está virada para Espanha, mais cuidada, com mais pontos de interesse histórico-arqueológico, com sítios naturais a explorar e praias a usufruir. quem sabe, um dia!




outros destinos na Sicília: 
pela costa sul

2 comentários:

  1. lugares que não conheço mas que parecem ser tão inspiradores e apaixonantes.

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    1. acredito que a beleza se esconde e nós só precisamos olhar com atenção e admirá-la. :-)

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