as estrelas que trazes contigo

entrei pela sala e os dedos do pequeno tilintavam sobre as estrelas, o olhar salivava por aqueles imperdíveis pedaços dourados que estavam em cima da mesa.
sussurrei-lhe, baixinho «Sabes que não devemos tocar nas estrelas?», e o pequeno mirou-me de soslaio, fitou-me convicto do facto: tu és um adulto e estás a ralhar! 
sussurrando, continuei: «Não devemos tocar nas estrelas porque são delicadas, frágeis.» - e o seu olhar grudou-se na ponta dos meus porquês. «Sim,» continuei, «nunca pensaste porque é que as estrelas estão no céu, lá longe, onde não lhes podemos tocar com os nossos dedos?» - e o olhar maroto deu lugar ao olhar de espanto. «Não», respondeu-me. «Porque se lhes pudéssemos tocar, partir-se-iam em mil pedaços e o céu já não teria estrelas e nós não teríamos luz. O céu da noite ficaria escuro, escuro... da cor dos teus suspensórios.»
ele, o pequeno, continuava de olhos grudados e cabeça aterrada nestes porquês. encolhi os ombros, como quem acena que sim, como quem confirma, e segui caminho.



Sem comentários:

Enviar um comentário