entre sentimentos opostos { Atenas, Grécia }









adoro viajar. tenho vontade de sair pelo mundo fora, só com uma mochila na mão, um casaco, uma ou outra coisa mais indispensável, um caderno, uma máquina fotográfica.
não sei se todas as 6as feiras, mas quero deixar-vos aqui alguns dos meus cadernos de viagem. não são guias, não sugerem rotas. são sensações, visões, cheiros, cores de sítios por onde fui passando. pelo mundo e por cá.


|fotos: Carla Martins|
Atenas, Grécia



este é, talvez, o destino que mais me deixou em suspenso. entre sentimentos opostos e contraditórios. se por um lado tinha consciência (não prática e factual, entenda-se, mas a consciência que advém da pesquisa sobre o sítio e os relatos de quem por lá tinha passado) de que a cidade em si não seria um destino apetecível, por outro queria muito subir ao Pártenonnão me esqueço das palavras duma querida amiga: emocionou-se quando lá chegou (ao Pártenon), rodeada pela imensidão da pedra (qualquer coisa assim do género, se calhar estou a dourar as palavras e o que importa mesmo é o verbo emocionar-se).


o primeiro pé foi posto no passeio, ainda a cidade dormia. as ruas escuras (apesar do sol que já brilhava duma forma muito intensa e quente), as ruas sujas e o lixo em muito cantos - qualquer loja ou casa devoluta servia para despejar os restos, quaisquer restos. encontrar um mercado de rua, sentir-me envolvida pelas cores, formas e cheiros que temos aqui em casa. descobrir que, apesar de não beber café puro, me saberia mais do que bem os grandes copos de café gelado que toda a gente ali bebia, fazendo lembrar, em muito, os costumes nova-iorquinos. 
aliás, este calor que se fazia sentir a todas as horas, apesar das temperaturas não estarem tão altas quanto prevíamos, trouxe-me uma obsessão: fotografar os animais, ou as carapaças dos ditos. por todo o lado se viam estes pequenos seres, que outrora tiveram com certeza uma vida agitada, mas que agora permaneciam quietos; de quase todos só restava mesmo o exterior.
procurámos o fresco nas sombras frondosas do grande jardim da cidade. ajudou mas não bastou. esta procura levou-nos ao mar, saber-nos-ia muito bem estar ao pé do mar. levou-nos a Hydra, Poros e Égina e a um apetecido banho salgado. não são as mais bonitas das 6.000 ilhas gregas, mas estas ilhas, muito perto de Atenas, valem a pena visitar de passagem. e este de passagem significa um passeio de barco. não nos livra propriamente das pilhas de turistas que circulam por alí, mas leva-nos ao imenso azul, ao profundo azul do Mediterrâneo. às casas brancas, aos contornos vivos e contrastantes das ombreiras, aos portos que agora recebem visitantes em catadupa.  

café fresco, sombra frondosa, a brisa do mar. se isto era o que mais nos apetecia, percebemos que subir ao Pártenon, a parte mais alta da Acrópole, implicaria esperar pelo final dum dia e, mesmo assim, seria uma aventura tórrida. 

esse final de dia veio. mesmo lá no topo e ao subir as escadas, por entre uma imensidão de gente que fotograva avidamente tudo e mais alguma coisa e as vigas prontas para reconstruir e recolocar os tempos no seu devido sítio, senti o coração a bater desalmadamente. e os olhos a ficarem molhados. a voz a ficar embargada. e não estou a exagerar. ali se sente a energia de séculos de História, de tanta gente importante, de pensamentos que ainda hoje nos marcam. liguei imediatamente à minha amiga (ou mandei mensagem... já nem sei): precisava aquele momento e partilhá-lo, também, com ela. poucas palavras bastaram. ficaria ali uma eternidade, mesmo com vento, mesmo com calor, mesmo com muita gente, mesmo olhando constantemente para o chão para não escorregar nas pedras gastas, mesmo com a confusão de reconstruções e templos meio desfeitos (ou meio refeitos).

e assim me encontrei entre sentimentos opostos. 
uma cidade mais do que enorme, suja e com um centro histórico que se conhece, e se vive, quase num instante. vários museus para visitar mas que praticam horas impraticáveis para os turistas - isto quando não temos o azar de sermos indelicadamente corridos de lá de dentro - ainda a meia-hora do fecho, porque há que tirar de lá toda a gente a horas! gente pouco ou nada simpática, rude no trato.
e sítios carregados de História, belos mesmo que aos pedaços. um mar imenso que dá vontade de abraçar constantemente.
fica a vontade de lá voltar e conhecer tudo o que não é citadino nem insular.



|fotos: Carla Martins|
Acrópole,
Atenas, Grécia




















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