O livro do chá


de vez em quando, à conta da birra do sono, saem-me umas frases disparadas. nem sempre agradáveis, a bem da verdade... uma das últimas foi relativa ao acto de beber chá e, na situação em questão, ao facto de ter sido burocrático. 
pois, perguntam vocês: o acto de beber chá pode ser burocrático? sim, no sentido de ser algo que se deve tomar, um acto em que a obrigação está no lugar do prazer, a rapidez ao invés da degustação.
embora isto até tenha razão de ser, o contexto não terá sido o melhor, nem a forma de dizê-lo. certo é que fiquei a pensar no assunto e acordei com um livro na cabeça (aliás, terá sido certamente este o livro por detrás desta afirmação): O livro do chá, de Kakuzo Okakura. um livro pequeno, muito pequeno mesmo e que se lê num ápice - embora todo o seu conteúdo seja tão denso que não recomendo a leitura rápida. não me lembro quanto tempo demorei a chegar ao fim mas tenho mais do que muitas páginas sublinhadas e outras marcadas. 
na contracapa diz: «A Filosofia do Chá não é mero esteticismo na acepção vulgar do termo, porque exprime, conjuntamente com a ética e a religião, todo o nosso ponto de vista a respeito do homem e da natureza. É higiene, porque impõe limpeza; é economia, porque revela o conforto que existe na simplicidade, mais do que no que é elaborado e caro; é geometria moral na medida em que define o nosso sentido de proporção face ao universo. Representa o verdadeiro espírito da democracia oriental ao fazer de todos os seus partidários aristocratas no gosto.»
ao longo das 92 páginas, Kakuzo Okakura (1862-1913), à medida que vai abordando a questão do chá - origem, hábitos, a visão do ocidente e do oriente - vai-nos deixando muita informação para reflectir. talvez por isso este livro me tenha marcado tanto e ainda esteja na estante dos livros a ler. e ainda bem que me saiu disparada desta frase porque assim, sem programar e pensar demasiado, finalmente começo esta nova rubrica que há muito vinha ondulando os meus pensamentos: na minha estante. à semelhança dos filmes, não são críticas, não são sugestões (quem achar por bem ou sentir que deve aceitar como tal, ficarei muito grata!), são registos do que senti nas horas que passei com estes livros.
d' O livro do chá, que tem como capítulos coisas tão maravilhosas como A Chávena da Humanidade, deixo-vos algumas linhas que, espero, vos suscitem curiosidade!


«[sobre o Zenismo] O próprio corpo era apenas uma cabana no meio da selva, um abrigo frágil feito pelo entretecer das ervas que cresciam em redor - que, quando deixavam de estar interligadas, se dissolviam novamente no baldio original.», 
pg. 56, capítulo A Sala-de-Chá 

e porque um chá (pelo menos no Ocidente) vai sempre bem com qualquer coisa, aqui fica a sugestão dum bolo maravilhoso!




2 comentários:

  1. Gosto da nova rubrica, Carla :) parece que estamos em sintonia...chá + bolo + morangos

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