abrandar

é o meu maior desejo e a grande luta para Agosto: abrandar. repesquei umas fotos de Março deste ano. lembram-se da tempestade? da violência das águas, das chuvas, da destruição costeira? foi neste redemoinho de emoções que me vi e senti durante este último ano. ao ponto de me olhar no espelho como D. Quixote pé-de-vento e ser Sancho Pança, o ingénuo, que via. e é exactamente a mesma dualidade que estas fotos (e próprio momento em que as tirei) me despertam: sinto o belo da paisagem, o ruborescer das faces causado pelo frio agudo, as cores embriagadoras do pôr-do-sol; mas também vejo o rasto de destruição que a água causou, o que o mar levou sem apelo nem agravo, o espaço reduzido que fica (para podermos andar) e o medo de que uma onda salte, de repente, e nos leve no meio da espuma fantasmagoricamente branca.
não só abrandar mas também reconstruir (me). tirar prazer dum Verão que já não existe como há 30 anos, abrasador e de noites quentes, mas que está (sempre!) aí para nos lembrar que os ciclos da Natureza existem e que a renovação é possível. que nos mostra que nada volta ao que era, nem mesmo as frases feitas, mas que é possível voltarmos àquela praia, enterrarmos os pés na areia que regressou e percebermos que um mar gelado até nos acalma. contemplar sem receio que acabe, olhar e fixar um ponto que hipnotize. mergulhar no tempo e sentir que este, lentamente, pára. 

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