Estufa Fria


uma hora de espera até que a Estufa Fria abrisse. não fosse o crepitar das folhas das árvores, as crianças que saltitavam no parque mesmo ao lado, teria dormitado. entretive-me a observar os gansos no lago, os pavões ainda adormecidos, a fugir do sol pelos bancos sujos pelos pombos. reli mais umas páginas dum livro. 
gosto de espaços assim. que nos transportam para outras dimensões, que nos trazem outros cheiros e sensações na pele. espaços onde não é previsível encontrar esta ou aquela pessoa. onde o silêncio impera, onde somos quase que compelidos a murmurar. deambulei por ali, sem pressas. cruzei-me com um casal mais velho- ambos já com alguma dificuldade de locomoção. observei-lhes as pausas. fiquei comovida quando, num desses momentos de paragem cúmplice, ele pega na máquina e, lentamente, fotografa. se somos curiosos e ávidos de conhecer, não interesse em que altura da vida estamos - procuramos, esgravatamos, aprendemos, registamos. num momento seguinte, outra geração. pequenas pernas (muito pequenas), mãos-dadas e um esforço hercúleo para subir uns lances de escadas. uma educadora que, pacientemente, aguardava mais um grão no papo. ao lado, os jardineiros empoleirados restabeleciam a ordem. 
os minutos passaram a correr, o sol acabou por se esconder e deixar passar um céu cinzento. fugi, parque e avenida abaixo. abracei uma amiga que não via há demasiado tempo. trocámos confidências, prometemos não nos perdermos de novo. e assim se aproveita uma preguiçosa manhã de Agosto.





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