tardes de Outono

um destes dias, partilhava-se numa formação qual a estação do ano preferida e porquê. sem dúvida de que a minha é o Verão - gosto de calor, do sol, dos dias grandes, da praia, de poder dormir de janela aberta, dos sons das cigarras e dos grilos, de melancia, de alperces e de muitas outras coisas. está gravado na minha memória o cheiro dos campos do Alentejo - o sítio que me acolheu, durante muitos anos, em pelo menos duas semanas estivais - as horas das sestas dos mais velhos, que equivaliam a escapadelas com os primos pelas ruas quentes da aldeia, os banhos gelados numa piscina-tanque à beira das águas da barragem, os almoços intermináveis de grelhados. recordações que me marcam!
no entanto, e como nasci no final do Verão, naquele momento de passagem, tenho consciência do fascínio que a transição para o Outono exerce na minha vida: gosto dos tons terra, dos castanhos, dos ocres. de ver as folhas das árvores caídas no chão. e da praia e do mar nesta altura do ano.

sem ser planeado, passei um final de tarde na Praia da Duquesa, em Cascais. no areal havia espaço, coisa impossível num dia de Verão, havia silêncio, havia gente que passeava calmamente. havia corajosos na água e turistas deliciados com este calor tardio, este mar calmo, sereno e límpido. havia lugar para a brincadeira, para conversar quase murmurando, para ler um livro sem ser interrompido. e havia o brilho nos olhos de todos os que ali estavam!
um privilégio, tenho noção, sobretudo a dois passos de casa. um privilégio para quem, como nós, pode vestir os fatos de banho e passar uns minutos na praia. para quem, saindo do trabalho, descalça os sapatos e aproveita os últimos minutos de luz com os pés dentro duma água tépida. para quem se senta nas escadas, antes repletas de banhistas, e vislumbra o final do dia. ou toma uma bebida fresca, quase com os pés na areia... para quem, para quem...



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