diz-me o que compras, dir-te-ei quem és I

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ontem, de passagem pelo Mercado de Natal do Campo Grande, senti compulsivamente vontade de escrever sobre os artesãos que vou descobrindo e admirando. já há um ano atrás, quando vi este vídeo (Where one of a kind gifts come from), partilhado pela Maria Madeira da fabulosa kase-faz, fiquei assim e acho que até o partilhei na minha página pessoal. mais não fiz; mea culpa. 
a diferença é que este ano não me parece que a timidez se deva interpor, não faz sentido pensar que é mais um post sobre o assunto ou que ninguém o vai ler. porque, de certeza, uma, duas ou três pessoas o farão. e também não é por ser Natal, por ser a época em que todos correm para comprar um penduricalho que, com sorte, vai fazer as delícias de quem o recebe e, com mais sorte ainda, fará apagar os conflitos, as mágoas, os tempos menos bons. é porque me faz todo o sentido.
começo pela Babusqa.  
a primeira coisa que me chegou às mãos foi um íman para frigorífico - faço colecção - com o rosto do Rei que, no ano respectivo, era retratado na Viagem Medieval de Santa Maria da Feira (para quem nunca foi e tiver curiosidade, ver este post). gostei do presente mas, confesso, não liguei muito (isto sem qualquer menosprezo!). 
só no ano seguinte, quando por lá passei e dei de caras com a banca, é que fiquei encantada com a parafernália de personagens e, claro, com o Filipe e a Liliana. entrei naquele mundo e tive vontade de trazer uma série de coisas para casa. viajaram comigo dois dedoches (Afonso Henriques e o seu cavalo e a Carochinha e o João Ratão). ficaram escondidos, longe dos olhares alheios - coisa muito própria de quem está encantado com alguma coisa e não quer que mais ninguém a catrapisque ou roube!
no ano seguinte, não resisti e trouxe mais dedoches, um Bobo em forma de colar, dois Tufos e um Pássaro Jacarandá. ontem, trouxe um presépio (e já o ofereci). não consigo ficar alheia a estes trabalhos: têm vida, chamam por nós. 
e também não consigo ficar alheia ao facto de que tudo, mas tudo, o que vêm em cima da banca Babusqa ser feito pelas mãos do Filipe e da Liliana: desde os expositores, aos cartões, às etiquetas, às caixas onde se transportam os artigos e, claro está, os próprios bonecos! 
imaginam o trabalho que isto tudo dá? as horas e horas e mais horas infinitas que estão aqui envolvidas? imagino uma parte e não consigo ficar indiferente. não consigo deixar de pensar que trazer um objecto destes é trazer uma parte de cada um deles, é pôr no bolso um pouco da vida de cada artesão. já pensaram que trazem um pouco da vida de cada uma destas pessoas no bolso? 

abro parêntesis e volto ao início do post: se de manhã senti uma vontade compulsiva de escrever, quando, à noite, aterrei no computador e dei de caras com estas ilustrações, mais tive a certeza. John Holcroft põe o dedo na ferida duma forma quase serena mas tão acutilante (lembrou-me as longas narrações em Dexter, as longas descrições do que ia na sua mente). 
somos escravos do consumo e das imagens que nos passam. compramos porque temos de comprar. indirectamente permitimos atrocidades, compactuamos com o que seria impensável deixarmos acontecer com as nossas crianças. compactuamos porque estão longe? porque não sentimos o seu sofrimento? compactuamos porquê???

retomo: sim, de cada vez que compramos uma peça a um artesão trazemos vida e geramos uma nova vida para esse objecto. e é isso que cada vez mais me motiva a comprar. foi isso que na Babusqa me captou o olhar. espero que vos capte o vosso também.

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